A Importância da Família
Cresci ouvindo meu pai citar (muitas e muitas vezes) o
versículo: “Deus faz que o solitário viva em família” (Sl 68.6). A razão pela
qual ele enfatizava tanto isso tem a ver com sua história. Ele cresceu em uma
família que não servia a Jesus (quase todos vieram a se converter depois), de
modo que, pela ausência de valores bíblicos, apresentou inúmeras deficiências.
Meu avô paterno suicidou-se quando meu pai tinha apenas doze anos. O fato dele
não ter morrido imediatamente após o autoenvenenamento ameniza um pouco a
situação, uma vez que deu claras mostras de arrependimento no período de quase
um dia que levou até que, infelizmente, morresse. Porém, mesmo antes da trágica
morte de meu avô, o meu pai não tinha uma vida familiar exemplar; falta de
afeto, rigidez excessiva na disciplina e muitos outros fatores contribuíram
para grandes lacunas emocionais.
O fato é que meu pai cresceu não apenas sentindo a falta de
uma família estruturada, mas, depois da conversão, deparou-se com o que, para
ele, era mais do que uma promessa, era a revelação de um propósito divino:
“Deus faz que o solitário viva em família”. De alguma forma, seja ao mencionar
tanto esse versículo, ou ao ensinar outros princípios bíblicos para a família,
meu pai conseguiu encher meu coração com um sentimento de muito valor para com
a família. E, mesmo reconhecendo que o lar em que cresci não era perfeito,
percebo que meu pai me fez acreditar e sonhar com o plano divino para a
família. E entendo que muito do que o Senhor deseja fazer em nossas vidas
depende do nosso entendimento acerca do valor da família.
Portanto, penso que a melhor forma de iniciar este livro
seja destacando a importância que a família tem. Quero, contudo, enfatizar a
importância da família na ótica espiritual, aos olhos de Deus e à luz do que a
Bíblia ensina.
Muita gente só enxerga o valor emocional, sentimental da
família; mas o problema desta avaliação é que a família somente é boa quando as
circunstâncias respaldam tal sentimento. Quando há crise, problemas de
relacionamento e uma série de outros fatores que contribuem para que as emoções
se desgastem, o valor atribuído à família é seriamente comprometido. Atribuir à
família apenas o valor sentimental pode ser algo muito traiçoeiro.
Precisamos ir além disso e entender o valor que o Pai
Celestial agregou à família. E então, somente então, poderemos trabalhar o
valor emocional permitindo que ele se alinhe ao que as Escrituras Sagradas nos
ensinam. Portanto, para consolidar o conceito do valor familiar, quero
discorrer sobre os princípios e valores bíblicos acerca da família.
DEUS PENSA EM TERMOS DE FAMÍLIA
O Senhor não trata apenas com indivíduos, mas também com
famílias. É claro que a salvação é individual, e a fé e a escolha (com suas
consequências) também. O juízo vindouro também tem essa característica, e é por
isso que a Palavra de Deus declara: “Assim, pois, cada um de nós dará conta de
si mesmo a Deus” (Rm 14.12). Contudo, quando falamos a respeito de propósito
(não de responsabilidade), percebemos que a Bíblia apresenta um Deus que pensa
em termos de famílias, e não apenas de indivíduos.
Quando o Senhor chamou o patriarca Abraão (na ocasião ainda
chamado de Abrão), e fez com ele uma aliança, ainda que estivesse tratando com
um indivíduo, estava também focando a família:
“Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua
parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. Eu farei de
ti uma grande nação; abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome; e tu, sê uma
bênção. Abençoarei aos que te abençoarem, e amaldiçoarei àquele que te
amaldiçoar; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gênesis 12.3)
Observe que o Senhor fala de multiplicar a família de Abrão
com o propósito de abençoar TODAS as famílias da terra. Ou seja, Deus está
prometendo abençoar uma família para, através dela, poder abençoar todas as
demais famílias do planeta (em todas as épocas). É evidente que o Criador, em
seus planos e propósitos para a humanidade, pensa em termos de família.
Encontramos este padrão (salvação individual mas propósito familiar) nas
histórias bíblicas. Basta recordar o que aconteceu com Noé:
“Porque eis que eu trago o dilúvio sobre a terra, para
destruir, de debaixo do céu, toda a carne em que há espírito de vida; tudo o
que há na terra expirará. Mas contigo estabelecerei o meu pacto; entrarás na
arca, tu e contigo teus filhos, tua mulher e as mulheres de teus filhos.” (Gênesis 6.17,18)
Noé chamou a atenção de Deus com sua integridade. Ele,
sozinho, conseguiu isso. Mas o livramento se estendeu a toda a sua família.
Vemos o mesmo com Ló:
“Então disseram os homens a Ló: Tens mais alguém aqui? Teu
genro, e teus filhos, e tuas filhas, e todos quantos tens na cidade, tira-os
para fora deste lugar; porque nós vamos destruir este lugar, porquanto o seu
clamor se tem avolumado diante do Senhor, e o Senhor nos enviou a destruí-lo.
Tendo saído Ló, falou com seus genros, que haviam de casar com suas filhas, e
disse-lhes: Levantai-vos, saí deste lugar, porque o Senhor há de destruir a
cidade. Mas ele pareceu aos seus genros como quem estava zombando. E ao
amanhecer os anjos apertavam com Ló, dizendo: Levanta-te, toma tua mulher e
tuas duas filhas que aqui estão, para que não pereças no castigo da cidade.
Ele, porém, se demorava; pelo que os homens pegaram-lhe pela mão a ele, à sua
mulher, e às suas filhas, sendo-lhe misericordioso o Senhor. Assim o tiraram e
o puseram fora da cidade. Quando os tinham tirado para fora, disse um deles:
Escapa-te, salva tua vida; não olhes para trás de ti, nem te detenhas em toda
esta planície; escapa-te lá para o monte, para que não pereças.” (Gênesis
19.12-17)
O que podemos dizer da família de Ló? Sua mulher, ao sair de
Sodoma, olhou para trás (desobedecendo à ordem divina e demonstrando saudade
daquele lugar) e foi julgada por Deus. Seus futuros genros não creram em sua
mensagem e ainda zombaram dele. Suas filhas o embebedaram para cometer incesto.
Você consegue enxergar uma grande justiça na vida destes familiares? Eu não!
Aliás, vale ressaltar que quem foi chamado de justo pelas Escrituras foi o
próprio Ló:
“Se, reduzindo a cinza as cidades de Sodoma e Gomorra,
condenou-as à destruição, havendo-as posto para exemplo aos que vivessem
impiamente; e se livrou ao justo Ló, atribulado pela vida dissoluta daqueles
perversos [porque este justo, habitando entre eles, por ver e ouvir, afligia
todos os dias a sua alma justa com as injustas obras deles]; também sabe o
Senhor livrar da tentação os piedosos, e reservar para o dia do juízo os
injustos, que já estão sendo castigados”.
(2 Pedro 2.6-9)
Mas ainda que a salvação seja individual, Deus, em termos de
propósito, também trata com as famílias. Continuamos encontrando este fato nas
páginas do Novo Testamento:
“E ele nos contou como vira em pé em sua casa o anjo, que
lhe dissera: Envia a Jope e manda chamar a Simão, que tem por sobrenome Pedro,
o qual te dirá palavras pelas quais serás salvo, tu e toda a tua casa.” (Atos 11.14)
“Responderam eles: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e
tua casa.” (Atos 16.30)
Precisamos compreender esse propósito divino para a família.
Entender o projeto de Deus nos ajudará a discernir o valor que Ele atribui à
família.
BÊNÇÃOS FAMILIARES
Vimos em Gênesis 12.1-3 que, no plano de Deus, a família
tanto é abençoada como também é abençoadora. O Senhor disse que abençoaria a
Abraão e sua descendência (família) e que, através da família do patriarca,
todas as demais famílias da terra seriam abençoadas.
É interessante notar que, na Bíblia, sempre que Deus abençoa
alguém, também abençoa a sua família. Vemos isso na vida de Potifar, capitão da
guarda do Faraó: “Desde que o pôs como mordomo sobre a sua casa e sobre todos
os seus bens, o Senhor abençoou a casa do egípcio por amor de José; e a bênção
do Senhor estava sobre tudo o que tinha, tanto na casa como no campo” (Gn
39.5).
Também vemos o mesmo com as parteiras que, por temor a Deus,
desobedeceram a ordem do Faraó de lançar no rio Nilo os recém-nascidos dos
hebreus que eram do sexo masculino: “Também aconteceu que, como as parteiras
temeram a Deus, ele lhes estabeleceu as casas” (Êx 1.21).
As Escrituras também enfatizam isso acerca de Obede-Edom: “E
ficou a arca do Senhor três meses na casa de Obede-Edom, o gitita, e o Senhor o
abençoou e a toda a sua casa” (2 Sm 6.12).
Há uma evidente relação entre as bênçãos divinas e a
família. Uma das primeiras bênçãos mencionadas como consequência da obediência
ao Senhor em Deuteronômio 28 é “bendito o fruto do teu ventre” (v.4).
Quem pregou na cerimônia do meu casamento foi meu pai. Na
ocasião, o pastor Juarez Subirá falou de um texto bíblico que cresci escutando
ele mencionar, o Salmo 128. Veja os quatro primeiros versículos desse Salmo:
“Bem-aventurado todo aquele que teme ao Senhor e anda nos
seus caminhos. Pois comerás do trabalho das tuas mãos; feliz serás, e te irá
bem. A tua mulher será como a videira frutífera, no interior da tua casa; os
teus filhos como plantas de oliveira, ao redor da tua mesa. Eis que assim será
abençoado o homem que teme ao Senhor.”
(Salmo 128.1-4)
Deus fala de prosperidade material e da família. E depois de
falar da bênção sobre a família de quem teme ao Senhor, o salmista enfatiza:
“assim será abençoado o homem que teme ao Senhor”. A bênção da família parece
vir até mesmo antes das outras:
“Sejam os nossos filhos, na sua mocidade, como plantas bem
desenvolvidas, e as nossas filhas como pedras angulares lavradas, como as de um
palácio. Estejam repletos os nossos celeiros, fornecendo toda sorte de
provisões; as nossas ovelhas produzam a milhares e a dezenas de milhares em
nossos campos; os nossos bois levem ricas cargas; e não haja assaltos, nem
sortidas, nem clamores em nossas ruas! Bem-aventurado o povo a quem assim
sucede! Bem-aventurado o povo cujo Deus é o Senhor.” (Salmo 144.12-14)
Algo interessante que percebo nas Escrituras é que Deus não
somente abençoa a família, mas também vê a própria família em si mesma como uma
bênção oferecida aos homens:
“Deus faz que o solitário viva em família; liberta os presos
e os faz prosperar; mas os rebeldes habitam em terra árida.” (Salmo 68.6)
“Ele faz com que a mulher estéril habite em família, e seja
alegre mãe de filhos. Louvai ao Senhor.”
(Salmo 113.9)
Durante muito tempo eu acreditei que o Senhor abençoava a
família porque ela era importante para nós. Portanto, como forma de nos
agradar, pelo valor que nós damos à família, o Pai Celeste a abençoava.
Contudo, descobri (e falarei disso mais adiante) que Deus
não abençoa a família apenas por ser importante para nós. É muito mais do que
isso, uma vez que a família é importante para Ele! E as bênçãos prometidas em
todo o tempo sobre as famílias somente fortalecem esse conceito.
MANDAMENTOS FAMILIARES
Além das bênçãos sobre a família (que revelam o quanto o
Senhor a aprecia e quer que vivamos o Seu melhor), encontramos na Palavra de
Deus, também, a questão dos mandamentos familiares.
Desde que instituiu a família, o Criador a protegeu, dando
aos homens leis que deveriam proteger a instituição chamada família. Nos Dez
Mandamentos, temos dois deles diretamente ligados à questão familiar (a ordem
de honrar os pais e a de não adulterar – sem contar o de não cobiçar a mulher
do próximo). As Sagradas Escrituras estão repletas de mandamentos familiares –
ordens divinas acerca da vida familiar.
Esses mandamentos, se obedecidos, trazem bênçãos sobre a
vida daqueles que os praticam. Por outro lado, a quebra desses mandamentos, que
denomino “pecados familiares”, também trarão consequências diferenciadas
(falarei mais sobre isso num capítulo com o mesmo tema). A ordem divina de
honrar os pais, por exemplo, é chamada de “o primeiro mandamento com promessa”:
“Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor,
porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento
com promessa), para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra.” (Efésios 6.1-3)
Obedecer aos mandamentos que protegem a família nos farão
ser bem-sucedidos em tudo e ainda aumentar nossos dias de vida. Prosperidade e
longevidade num pacote só!
Os filhos devem a seus pais não apenas obediência, mas
também honra. Ao se casarem, os filhos deixam pai e mãe e se unem ao seu
cônjuge; isso põe fim à necessidade de obediência, mas não de honra:
“Mas, se alguma viúva tiver filhos, ou netos, aprendam eles
primeiro a exercer piedade para com a sua própria família, e a recompensar seus
progenitores; porque isto é agradável a Deus.”
(1 Timóteo 5.4)
Os filhos devem recompensar seus pais (que os criaram)
quando esses chegam à velhice; devem suprir seus progenitores não só em suas
necessidades materiais. Ainda que não devam mais a obediência de quando viviam
sob seu teto, devem honra. Sempre!
Além dos mandamentos que determinam a conduta dos filhos
para com os pais, também encontramos na Bíblia os mandamentos que determinam a
conduta dos pais para com os filhos, especialmente a ordem de criá-los no temor
do Senhor:
“E vós, pais, não provoqueis à ira vossos filhos, mas
criai-os na disciplina e admoestação do Senhor.” (Efésios 6.4)
“Que [o bispo] governe bem a sua própria casa, tendo seus
filhos em sujeição, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a
sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)” (1 Timóteo 3.4,5)
Também há mandamentos dados por Deus para os cônjuges. O
marido deve amar sua mulher, honrá-la e trata-la de forma correta; a esposa
deve submeter-se e respeitar seu marido:
“Assim devem os maridos amar a suas próprias mulheres, como
a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo.” (Efésios 5.28)
“Vós, maridos, amai a vossas mulheres, e não as trateis
asperamente.” (Colossenses 3.19)
“Vós, mulheres, submetei-vos a vossos maridos, como ao
Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da
igreja, sendo ele próprio o Salvador do corpo. Mas, assim como a igreja está
sujeita a Cristo, assim também as mulheres o sejam em tudo a seus maridos.” (Efésios 5.22-24)
A FAMÍLIA EM NOSSA ESCALA DE VALORES
A escala de valores de muitos cristãos está desordenada.
Alguns estão vivendo de modo desordenado porque não fazem a menor ideia do que
as Escrituras ensinam a respeito do assunto; outros porque, mesmo tendo os
valores e prioridades devidamente ordenados no conceito mental, não conseguem
mantê-los na prática.
Para quem deseja viver no lugar correto de importância à
família atribuída por Deus, a primeira coisa a ser feita é conhecer a escala de
valores do ponto de vista de Deus, ou seja, aquilo que a Bíblia ensina. Depois,
é lutar para fazer funcionar.
Deus em primeiro lugar
Não há nada, absolutamente nada, que possa ocupar o primeiro
lugar de nossas vidas, a não ser Deus. O mandamento dado a Moisés foi lembrado
e enfatizado pelo próprio Senhor Jesus:
“Aproximou-se dele um dos escribas que os ouvira discutir e,
percebendo que lhes havia respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o primeiro de
todos os mandamentos? Respondeu Jesus: O primeiro é: Ouve, Israel, o Senhor
nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu
coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas
forças. E o segundo é este: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há outro
mandamento maior do que esses.” (Marcos
12.28-31)
Amar ao Senhor de todo o nosso coração, alma, entendimento e
forças, é colocá-lo em primeiro lugar nas nossas vidas. Jesus deixou bem claro
a qualquer que quisesse segui-lo como discípulo, que deveria reconhecê-lo em
primeiro lugar em suas vidas, na frente das pessoas que normalmente nos são as
mais amadas e queridas:
“Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e mãe, a mulher
e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida, não pode ser meu
discípulo. Quem não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo.
Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não
pode ser meu discípulo.” (Lucas 14.26,27
e 33)
O Senhor deve estar à frente dos pais, cônjuge, filhos e
qualquer outro familiar. Ele deve ser o primeiro valor em nossa lista ou escala
de prioridades. Deve vir antes de nossa própria vida. Deve vir antes de nossos
bens ou qualquer outra coisa. Quando falamos sobre Deus vir antes, não é porque
as coisas que nos dispomos a renunciar não têm mais lugar em nossas vidas; apenas
elas vêm depois.
Por exemplo, se o meu cônjuge, incomodado com minha fé me dá
um ultimato e me manda escolher entre ele ou o Senhor, me disponho a
sacrificá-lo e ficar com Deus, pois Deus é o maior valor de minha vida. Mas se,
mesmo não sendo cristão, meu cônjuge não se importa que eu busque ao Senhor,
então ele passa a ser meu segundo maior valor ou prioridade (1 Co 7.12,13). O
primeiro lugar de nossa vida, indiscutivelmente, é de Deus:
“Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas
estas coisas vos serão acrescentadas.”
(Mateus 6.33)
Repetindo: isso não quer dizer que as outras coisas não
caibam em nossas vidas; tão somente que elas vêm depois de Deus.
Família em segundo lugar
Muita gente tem errado ao pensar que a igreja ou o ministério
vem logo depois de Deus. Na verdade, a família vem em segundo lugar. Conheci,
quando ainda era um adolescente, uma senhora (do interior de São Paulo) que
disse que Deus a chamou para uma missão e desapareceu de casa por mais de um
mês. Quando os irmãos da congregação perceberam o que estava acontecendo,
tiveram que cuidar dos filhos dessa mulher, que não tinham o que comer e nem
vestir. O marido estava furioso porque roupas chegaram a apodrecer no tanque
enquanto a família aguardava ansiosa o término da “missão”. Isto é um absurdo!
Uma mulher destas, ainda que se intitule missionária, não conhece a Bíblia. Até
no caso de diminuir a intensidade do contato físico para se dedicar à oração, o
casal deve estar em acordo (1 Co 7.5). Mas aquela mulher não consultou seu
marido, e apenas disse: “Deus me chamou e eu estou indo”. E ainda por cima,
dizia que o marido é que era um carnal ao ponto de não discernir a voz de Deus.
Como declarou D. L. Moody, o grande evangelista: “Acredito
que a família foi estabelecida muito antes da igreja, e o meu dever é primeiro
com minha família. Não devo negligenciar minha família”. Veja o que as Sagradas
Escrituras ensinam acerca do lugar da família na nossa escala de valores:
“Mas, se alguém não cuida dos seus, e especialmente dos da
sua família, tem negado a fé, e é pior que um incrédulo.” (1 Timóteo 5.8)
Não há dúvida de que a família é nossa segunda prioridade
depois de Deus. Se alguém negligenciar sua família por causa da igreja, do
ministério, ou de qualquer outra coisa, por mais “espiritual” que pareça,
estará contra a Palavra de Deus. Paulo disse que tal pessoa está negando a fé e
é pior do que um incrédulo. Agora veja, o apóstolo estava falando com os
crentes que iam à igreja mas estavam negligenciando o lar. Logo, concluímos que
a família vem antes da igreja na nossa escala de valores. Há um outro texto que
mostra claramente a família como uma prioridade antes da igreja e do
ministério. É o conselho pastoral que Paulo queria estender a todos os
ministros debaixo da supervisão de Timóteo:
“É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido
de uma só mulher, …que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em
sujeição, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a sua própria
casa, como cuidará da igreja de Deus?)”
(1 Timóteo 3.2,4 e 5)
Observe que o homem de Deus deve ser exemplar quanto à sua
família. Fiel à sua esposa, e governando bem sua casa e seus filhos; caso
contrário, não poderá cuidar de igreja e ministério.
A Palavra de Deus não deixa a menor sombra de dúvida quanto
ao lugar que nossa família deve ter na nossa escala de valores. Mas muitos
cristãos têm negligenciado a sua família. Muitos pais que não dão tempo e
atenção aos seus filhos se queixam de vê-los desviados, mas não se apercebem
que estão andando em desordem. Há esposas perdendo seus maridos e vice-versa,
porque não os colocaram no lugar certo na escala de valores. É hora de
ordenarmos nossos passos e darmos atenção, honra e dedicação devidas à família.
Trabalho em terceiro lugar
É impressionante a facilidade com que nos levamos aos
extremos. De um lado, temos na igreja pessoas que são viciadas em trabalho e
cujas vidas não estão em ordem, pois desrespeitaram a escala bíblica de
valores, pondo o trabalho em primeiro lugar. De outro, temos aqueles que
relegaram ao trabalho o último lugar na sua escala de valores, ou que nem mesmo
colocam o trabalho em suas prioridades.
Quando a Bíblia fala daquele que não cuida da sua família
sendo pior do que o descrente (1 Tm 5.8), está falando, no contexto, sobre
sustento material, sobre provisão das necessidades físicas. Um cristão que não
leva a sério o trabalho, ao ponto de deixar sua família passar necessidade,
está violando os dois valores mais importantes que vêm logo depois de Deus.
O trabalho é uma ordem bíblica. É o meio do homem sustentar
sua casa e viver dignamente. Além disso, por meio do seu ganho ele também
poderá servir ao reino de Deus e ao necessitado:
“Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo
com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao
necessitado”. (Efésios 4.28)
A Palavra de Deus também diz que aquele que não trabalha
está andando desordenadamente, fora do plano divino:
“Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: Se
alguém não quer trabalhar, também não coma. Pois, de fato, estamos informados
de que entre vós há pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando; antes
se intrometem na vida alheia. A elas, porém, determinamos e exortamos, no
Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando tranquilamente, comam o seu próprio pão.” (2 Tessalonicenses 3.10-12)
O mandamento de Deus é claro: quem não trabalha, não deve
ser sustentado pelos outros. Cada homem tem a obrigação e a responsabilidade de
se envolver com o trabalho; isto não apenas o proverá quanto às suas
necessidades, mas ocupará corretamente o seu tempo, livrando-o de outros
problemas. Paulo se orgulhava de nunca ter sido um peso para ninguém, e de suas
próprias mãos (seu trabalho) terem lhe provido o sustento (At 20.34).
Mesmo quando Deus chama alguém para o ministério de tempo
integral – o que também é trabalho – deve-se ter a sensibilidade de reconhecer
que, em determinados momentos, devido à falta de recursos, nada há de errado em
se trabalhar em uma outra área até que a condição de sustento mude – foi isto o
que aconteceu com Paulo em Corinto (At 18.1-5).
Na vida dos que se dedicam de tempo integral, o ministério
se enquadra na prioridade “trabalho”. Jesus ao enviar seus discípulos para
pregar e ministrar ao povo, aplicou a eles o termo “trabalhadores” e mencionou
seu direito de salário, que é a recompensa legítima do trabalhador (Mt
10.7-10).
Alguns estudantes crentes não sabem onde devem colocar seus
estudos nesta escala. Considerando que o estudo é um meio de profissionalização
e preparo para melhores trabalhos, deve ser colocado no mesmo lugar que o
trabalho. Porém, algumas famílias conseguem manter seus filhos somente
estudando sem que trabalhem, mas a maioria não. Portanto, devemos aconselhar e
encorajar nossos jovens que enfrentem a correria de exercer as duas atividades,
pois, independentemente da necessidade financeira, o trabalho engrandece e
amadurece a pessoa.
Se dermos o valor devido a cada uma destas atividades,
mantendo-as em ordem na escala de valores e respeitando esta ordem em nosso dia
a dia, deixaremos de ter muitos dos problemas que já tem nos incomodado. O
trabalho tem o propósito de servir ao cuidado familiar; mas requer muita
atenção e equilíbrio de nossa parte, uma vez que alguns, por se dedicar demais
ao trabalho, acabam perdendo a própria família da qual deveriam cuidar,
enquanto outros, por sua vez, negligenciam o cuidado básico.
Autor: Luciano Subirá